Em branco



Ele estava sentado em frente á sua mesa no escritório. Na manhã seguinte seu artigo estaria no jornal... Mas estava muito difícil pra ele escrever naquela noite. Parece que as palavras que sempre estiveram ao seu lado haviam sumido num passe de mágica. Tudo o que ele sabia até então tinha desaparecido de sua mente. Estava meio perdido, confuso, alienado. Não conseguia se concentrar em escrever apenas duas linhas, quem dirá um artigo. E o tempo estava correndo. Já eram dez horas da noite e tinha que entregar o artigo até a meia noite. Como tinha ainda duas horas, resolveu sair do escritório e dar um volta pelo prédio onde trabalha. Não que houvesse alguma coisa interessante nos corredores daquele prédio executivo, mas talvez ele pudesse ter uma idéia que fizesse com que voltasse a escrever novamente. Pegou o elevador e foi até o terceiro andar, um abaixo de onde trabalhava. Quando as portas do elevador se abriram deu de cara com uma senhora idosa, com inúmeros cabelos brancos e uma cara simpática. Ela carregava com carrinho com produtos de limpeza, vassouras e panos. Ao vê-lo, a faxineira sorriu e continuou a nadar pelo corredor. Já era bem tarde, e naquele corredor apenas restou ele e a faxineira. Então ele se desesperou, sentou-se no chão e começou a chorar.
_ Isso nunca me aconteceu antes. Como vou entregar um artigo se nem sei o que escrever? - falava consigo mesmo
De repente, por onde a faxineira tinha ido, apareceu uma luz. Uma luz muito forte e intensa que quase o cegou mesmo depois que ele colocou seus braços na frente de seu rosto para tampá-la.
Ficou assustado e imaginava insistentemente de onde estava vindo aquela luz.
_ Quem está ai? - perguntou sem ouvir resposta - Quem está ai?
Ninguém respondia. E em um momento a luz se apagou. Ele retirou o braço de seu rosto e viu a faxineira bem perto.
_ O senhor está bem? - ela perguntou preocupada
Ele disfarçou e respondeu:
_ Estou sim.
Depois desta estranha experiência, ele voltou para seu escritório e novamente se pôs diante do papel em branco. Respirou fundo e escreveu. Conseguiu entregar o artigo á tempo.
Mais tarde, ele sentiu a necessidade de encontrar a faxineira para lhe dizer a verdade sobre a pergunta que ela tinha feito. Responder que ele não estava bem porque sua mulher queria o divórcio e ele iria se afastar de seu filho por causa disso.
Perguntou sobre a mulher para vários amigos do escritório e ninguém sabia sobre ela. Não estava em registros da empresa, em nada. Ela simplesmente havia aparecido e foi embora.

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